DIA MUNDIAL DA SAÚDE
Sabia que o Brasil é o segundo no mundo em número de cesáreas?
Mães e especialistas debatem porque o país ocupa esta colocação, perdendo apenas para a República Dominicana
A arquiteta Kate Macedo teve uma cesariana |
PUBLICADO EM 07/04/18 - 03h00
JULIANA SIQUEIRA
“Eu
acho que as pessoas que costumam fazer essas coisas ‘loucas’, como escalar o
Everest ou pular de bungee jumping, na verdade, é isso que querem sentir. Morro
de pena dos homens que nunca vão sentir absolutamente nada parecido. Ter filho
tem que ser uma experiência intensa porque a maternidade é algo intenso”. Quem
diz essas palavras é Gabriella Sallit, 38, advogada. Mãe de três filhos e
grávida do quarto, ela optou pelo parto natural – o último aconteceu em casa,
em uma banheira – e enxerga uma série de benefícios em relação a essa
experiência
.
.
Gabriella não está sozinha em relação ao assunto,
mas também está longe de representar a maioria das gestantes, pelo menos no
Brasil. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o
país, atualmente, é o segundo no mundo com o maior percentual de cesarianas
(56%), ficando atrás apenas da República Dominicana (58%). A região Sudeste
está em terceiro lugar nesse tipo de parto, com 61%.
No dia em que se comemora o Dia Mundial da Saúde,
celebrado neste sábado, 7 de abril, a pergunta é: por que estamos diante desse
cenário? Sônia Lansky, doutora em saúde pública e coordenadora do Sentidos do
Nascer, que luta pela valorização do parto normal e pela redução da cesariana
realizada desnecessariamente, afirma que os motivos são variados e até passam
pela escolha das mulheres, muitas vezes. A grande questão, ainda segundo ela, é
que em alguns casos essa opção acaba sendo induzida.
A advogada Gabriella Sallit já teve três partos naturais |
“Muitas
mulheres estão perdendo a oportunidade de viver processos importantes.
Há,atualmente, profissionais que estão transformando tudo em risco e
apresentando a cirurgia como solução. Há uma inversão de valores, de qualidade.
Não há como sustentar isso”, destaca ela.
Sônia
defende que as grávidas devem ter autonomia para fazer as escolhas delas, mas
que, para agir, precisam estar bem informadas. “A partir disso, a pessoa faz a
sua escolha”, diz.
Na prática. Fato
é que, com o avanço da Ciência, a segurança em diversos processos tem
aumentado. A cesariana entra aí, inclusive. Ela pode ser a responsável por
salvar vidas que, muitas vezes, poderiam se perder caso não fosse feita a
cirurgia. No entanto, em ocasiões em que não há qualquer impossibilidade de
parto normal, esse recurso não é o mais seguro, pelo contrário. Sônia afirma
que, com a cesariana, há três vezes mais risco de morte.
“Em
várias situações, o tempo do bebê não é respeitado quando a cesariana é feita e
ele nasce antes da hora, o que pode ocasionar dificuldades respiratórias. Um
prematuro pode ter, ainda, futuramente, mais dificuldades de aprendizado. Além
disso, quando o bebê nasce de maneira natural, entra em contato com bactérias
do corpo da mãe que aumentam a imunidade dele. Isso gera menos riscos de
alergias, obesidade, hipertensão, diabetes, entre outros”, afirma ela.
Paulo Tarcísio Pinheiro da Silva,
ginecologista e obstetra da Unimed-BH, concorda que o parto normal é o mais
indicado na maior parte das vezes. Ele cita, inclusive, que a recuperação da
mulher é mais rápida quando o nascimento da criança acontece dessa maneira. “O
pós-parto da cesariana é mais dolorido e a mulher tem alta, em geral, em 36 ou
48 horas. Já aquela que tem o parto normal, geralmente, tem alta em 24 horas.
Muitas têm medo da dor ao ter a criança, mas o que tira a dor não é a
cesariana, mas alguns mecanismos”, diz ele. O profissional cita como exemplo o
chuveiro e a banheira, que podem trazer mais conforto para o momento, entre
outros.
Respeito. Nesse cenário, há
também aquelas mulheres que optam pela cesariana e que sentem, inclusive, que
essa é a melhor opção para elas, defendendo que o que deve prevalecer mesmo é o
respeito de todos os lados. A arquiteta Kate Macedo conta que se preparou para
o parto normal, mas, nas 39 semanas, começou a ficar frágil emocionante e a ter
pensamentos negativos. A cesariana a deixou mais tranquila.
“Às vezes, as pessoas falam
que as mães que têm esse tipo de parto são um pouco ‘menos mães’ porque não
viveram o parto normal. Eu digo a vocês: ter um filho é a melhor das
experiências do mundo e ela independe de como a criança saiu”, diz.
Reportagem
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